segunda-feira, 1 de março de 2010

Exercìcios sobre Gêneros literários

1. O gênero épico é formado por obras (em verso ou em prosa) de extensão maior, em que um narrador apresenta personagens envolvidos em situações e eventos. As grandes navegações portuguesas a partir do século XVI também foram representadas em versos escritos na literatura portuguesa do século XVI. Qual o nome mais expressivo dessa época na literatura portuguesa?

a) José Saramago
b) Eça de Queiroz
c) Luis Vaz de Camões
d) Carlos Drummond de Andrade
e) Paulo Leminski


2) O gênero dramático compreende as seguintes modalidades:

a) Comédia, tragicomédia, farsa e suspense.
b) Terror, comédia, tragicomédia e suspense.
c) Novela, drama, comédia e farsa.
d) Suspense, drama, terror e comédia.
e) Tragédia, comédia, tragicomédia e farsa.

03) O gênero lírico na maioria das vezes é expresso pela:

a) Poesia.
b) Jornal.
c) Cinema.
d) Show.
e) Novela.


04) O gênero dramático geralmente é composto de textos que foram escritos para serem encenados em forma de:

a) Música.
b) Peça de teatro.
c) Poesia.
d) Novela.
e) Cinema.


05) Soneto é um texto em poesia com:

a) 10 versos.
b) 12 versos.
c) 13 versos.
d) 14 versos.
e) 11 versos.


06) A sátira é um texto de caráter ridicularizador, podendo ser também uma crítica indireta a algum fato ou a alguém. Um bom exemplo pode ser:

a) Canção.
b) História.
c) Piada.
d) Filme.
e) Teatro.


07) Geralmente a fábula tem por finalidade transmitir:

a) Alguma lição de moral.
b) Alguma crítica.
c) Alguma estória.
d) Alguma mensagem.
e) Algum elogio.


08) Segundo Aristóteles, os gêneros literários são geralmente divididos em:

a) Real, ficção e comédia.
b) Narrativo, lírico e dramático.
c) Circo, Novela e teatro.
d) Real, sonho e filme.
e) Narrativo, subjetivo e adjetivo.


09) Leia abaixo um soneto de Gregório de Matos:

"Um soneto começo em vosso gabo;
Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.

Na quinta torce agora a porca o rabo:
A sexta vá também desta maneira,
na sétima entro já com grã canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.

Agora nos tercetos que direi?
Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.

Nesta vida um soneto já ditei,
Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei".

Assinale a alternativa incorreta:

a) A sátira é um gênero que pretende despertar o riso do público.
b) Além do divertimento, a sátira pretende moralizar a sociedade.
c) Podemos afirmar que este gênero é conservador.
d) O conservadorismo da sátira está no fato que pretende punir, através do ridículo, aqueles que transgridem as leis sociais.
e) A sátira é um gênero revolucionário que pretende abolir as instituições estabelecidas como a Igreja e a Monarquia.


10) Ainda sobre o soneto acima, assinale a alternativa incorreta:

a) O poeta faz uma brincadeira com as próprias regras do soneto.
b) O personagem é satirizado pois não tem nenhuma qualidade digna de louvor, por isso, compor o poema é algo penoso e difícil para o poeta.
c) O personagem é cheio de virtudes, o que tornar extremamente difícil fazer-lhe um elogio à altura de suas qualidades.
d) O personagem é vítima da sátira, pois pretende obter honrarias (no caso um soneto) em sua homenagem para as quais ele não é digno.
e) Ao ridicularizar o personagem, o poeta mantém uma posição conservadora, pois repõe a ordem social no lugar.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Teoria Da Literatura

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ComunicaçãO

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segunda-feira, 2 de março de 2009

Conceito de Literatura

Literatura pode ser definida como a arte de compor ou estudar escritos artísticos; o exercício da eloquência e da poesia; o conjunto de produções literárias de um país ou de uma época; a carreira das letras.

A palavra Literatura vem do latim "litterae" que significa "letras", e possivelmente uma tradução do grego "grammatikee". Em latim, literatura significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se relaciona com as artes da gramática, da retórica e da poética. Por extensão, se refere especificamente à arte ou ofício de escrever de forma artística.

O termo Literatura também é usado como referência a um corpo ou um conjunto escolhido de textos como, por exemplo, a literatura médica, a literatura inglesa, literatura portuguesa, etc.

Alguns Conceitos

"

Arte Literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra" (Aristóteles, Grécia Clássica); "A Literatura é a expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do homem." (Louis de Bonald), pensador e crítico do Romantismo francês, início do século XIX);
A Literatura obedece a leis inflexíveis: a da herança, a do meio, a do momento." (Hipolite Taine, pensador determinista, metade do século XIX); "A Literatura é arte e só pode ser encarada como arte." (Doutrina da arte pela arte, fins do século XIX);
"O poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sinais, e a sua obra como um fim e não como um meio; como uma arma de combate." (Jean-Paul Sartre, filósofo francês, século XX;

"É com bons sentimentos que se faz Literatura ruim." (André Gide, escritor francês, século XX; "A distinção entre Literatura e as demais artes vai operar-se nos seus elementos intrínsecos, a matéria e a forma do verbo." (LIMA, Alceu Amoroso. A estética literária e o crítico. 2. ed. Rio de Janeiro, AGIR, 1954. p 54-5.)
"A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio." ( COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. 2. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978. p

. 9-10)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Pronome

É a palavra que acompanha ou substitui o substantivo, indicando sua posição em relação às pessoas do discurso ou mesmo situando-o no espaço e no tempo.

Os pronomes podem ser:

» substantivos: são aqueles que tomam o lugar do substantivo.

Ela era a mais animada da festa.

» adjetivos: são aqueles que acompanham o adjetivo.

Minha bicicleta quebrou

Classificação dos pronomes

O pronome pode ser de seis espécies:

» Pronome pessoal

» Pronome possessivo

» Pronome demonstrativo

» Pronome relativo

» Pronome indefinido

» Pronome interrogativo

Pronome pessoal

O pronome pessoal é aquele que indica as pessoas do discurso. Dividem-se em retos e oblíquos.

Os pronomes pessoais retos são:


Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos

São pronomes oblíquos átonos: me, te, o, a, lhe, se, nos, vos, os, as, lhes.

São pronomes oblíquos tônicos: mim, ti, ele, ela, si, nós, vós, eles, elas.

Os pronomes pessoais oblíquos tônicos são usados com preposição e os átonos, com formas verbais:

A mãe ansiosa esperava por mim.

A mãe esperava-o ansiosa.

Emprego dos pronomes pessoais

» Os pronomes pessoais retos funcionam como sujeitos de frases:

“Eu vou à loja, talvez ele esteja lá.”

» Os pronomes pessoais retos nunca aparecem depois de uma preposição. Torna-se obrigatório o uso dos pronomes oblíquos:

Entre mim e ti há uma distância enorme.

» Os pronomes oblíquos átonos o, a, os, as exercem a função de objeto direto:

A enfermeira examinou-o.

» Os pronomes oblíquos átonos lhe, lhes exercem a função de objeto indireto.

O garçom oferece-lhe bebida.

» Antes de verbo no infinitivo só usamos eu e tu, jamais mim e ti.

Fizeram de tudo para eu me emocionar.

Fizeram de tudo para tu comprares a casa.

Pronomes pessoais de tratamento

Os pronomes de tratamento são aqueles que indicam um trato cortês ou informal, sempre concordam com o verbo na terceira pessoa.

Quando falamos diretamente com a pessoa, usamos o pronome de tratamento na forma Vossa.

Vossa Alteza precisa descansar.

Quando falamos sobre a pessoa, usamos o pronome de tratamento na forma Sua.

Sua Alteza retornará em breve.


Pronome possessivo

São aqueles que indicam a posse de algo, estabelecendo uma relação entre o possuidor e a coisa possuída.

Minha casa está sendo reformada.


Emprego dos pronomes possessivos

Veja o exemplo:

“Meu carro estragou.”

Temos uma narração em primeira pessoa, em que o eu (personagem narrador) é o possuidor, o amigo (terceira pessoa, de quem se fala) é a coisa possuída.

» Há momentos em que os pronomes possessivos não exprimem a idéia de posse, mas indica respeito, aproximação, intimidade.

Meu senhor permita-me ajuda-lo.

Estamos orgulhosos por seus cinqüenta anos.

Escutávamos emocionados nosso Caetano Veloso.

» Antes de nomes que indicam partes do corpo, peças de vestuário e faculdades de espírito, não usamos o pronome possessivo.

Quebrei o braço. ( e não – Quebrei o meu braço.)

Pedro sujou a calça. ( e não – Pedro sujou a calça dele.)

Perdi os sentidos. ( e não – Perdi os meus sentidos.)

Pronomes demonstrativos

O pronome demonstrativo é aquele que indica a posição de um ser em relação às pessoas do discurso, situando-o no tempo ou no espaço.

São os seguintes:


Os demonstrativos combinam-se com as as preposições de ou em, dando as formas deste, desse, disso, naquele, naquela, naquilo.

Emprego dos pronomes demonstrativos

» Usamos os demonstrativos esse, essa, isso em referência a coisa ou seres que estejam perto da segunda pessoa (o ouvinte).

Esse caderno que está na sua mesa é meu.

» Também empregamos esse, essa, isso para mencionar algo já dito no discurso.

Todos achavam que ele não havia se arrependido. Achavam isso porque ele não agia como tal.

» Usamos este, esta, isto em referência a coisas ou seres que se encontram perto da primeira pessoa (o falante).

Sempre que vejo esta carta lembro-me de você.

» Também empregamos este, esta, isto no discurso para mencionar coisas que ainda não foram ditas.

Só posso dizer isto: odeio você.

» Aquele, aquela, aquilo são usados quando as coisas ou seres estão longe do falante e do ouvinte.

Aquela obra não apresenta boa segurança.

Pronomes relativos

Pronomes relativos são aqueles que se referem a um termo anterior.

Veja o exemplo:

O perdão de todos, o qual agradeço, é importante pra mim.

Os pronomes relativos são variáveis ou invariáveis:


Pronomes indefinidos

Pronome indefinido é aquele que se refere à terceira pessoa do discurso de modo impreciso, indeterminado, genérico:

Alguém bateu à porta.

Todos cumpriram suas tarefas.

Os pronomes indefinidos podem ser variáveis e invariáveis.


Algumas frases com pronomes indefinidos:

Todas as pessoas assistiram o filme.

Durante meia hora não vi pessoa alguma te procurar.

Escolheu qualquer roupa.

Um gosta de filme, outro de livros.

Há vários pais o procurando.

Em muitas situações temos não um pronome indefinido, mas um grupo de palavras com o valor de um pronome indefinido. São as locuções pronominais indefinidas:

Quem quer que, cada qual, todo aquele, seja quem for, qualquer um, tal e qual, etc.

Pronomes interrogativos

São aqueles usados na formulação de perguntas diretas ou indiretas, referindo-se à 3° pessoa do discurso.

Qual é seu nome?

Os principais pronomes interrogativos são:

» invariáveis: quem, que

» variáveis: qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.

Pergunta direta:

A mãe perguntou: ― quem fez isso?

Pergunta indireta:

A mãe perguntou quem havia feito aquilo.

Nos dois casos o pronome interrogativo quem desempenha o mesmo papel.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Gregório de Matos
(1636-1695 )
Antologia Poética
Biografia
Foi tão tumultuada a vida do poeta baiano que um biógrafo chamou-a de “vida espantosa”.
Como filho de senhor de engenho, Gregório pôde estudar em Portugal,para onde se mudou aos 14 anos de idade. Lá passou 32 anos, prósperos e tranqüilos.
Retornou ao Brasil, em 1682, nomeado para funções na burocracia eclesiástica da Sé da Bahia. Durou pouco no cargo, do qual foi destituído em 1683. Iniciou-se, então, a última fase de sua vida. O casamento com Maria dos Povos, a quem dedicou belíssimos sonetos, não impediu a decadência, social e profissional, do Dr. Gregório. Ficou famoso em suas andanças e pândegas pelos engenhos do Recôncavo.
Mais famosas ainda eram suas sátiras. Talvez por causa delas, foi deportado para Angola, em 1694. Pôde retornar ao Brasil, no ano seguinte, mas para o Recife, onde morreu aos 59 anos de idade.
Gregório de Matos Guerra ficou conhecido na história da literatura como o Boca do Inferno, por causa de suas sátiras e de sua poesia. Mas sendo um autor barroco e, portanto surpreendente e contraditório, esse mesmo Boca do Inferno também disse coisas belíssimas sobre o amor, como nesse soneto que você acabou de ler.
Comentário
Podemos incluir o soneto de Gregório de Matos na tendência conceptista do Barroco, graças ao engenhoso desenvolvimento de uma única imagem, a da mariposa atraída pela chama que deverá matá-la. O sujeito lírico desdobra a comparação entre a sua situação e a da mariposa, explorando as semelhanças, para, na última estrofe, ponto culminante do soneto, estabelecer a grande diferença: seu sacrifício é mais terrível do que o dela, por que inútil.
Nosso poeta baiano merece que lhe dediquemos uma atenção especial.
Para muitos historiadores, ele é o iniciador da literatura brasileira. Mas é interessante observar ar que permaneceu inédito até meados do século XIX. Sua produção poética sobreviveu, até então, em livros manuscritos, colecionada por admiradores. As duas tentativas de publicação completa - por sinal, muito insatisfatórias - ocorreram já no nosso século XX: a edição da Academia Brasileira de Letras, em 6 volumes (1923-1933), e a edição de James Amado, em 7 volumes (1968).
Gregório recebeu influências tanto do Cultismo de Góngora quanto do Conceptismo de Quevedo. Seu espírito profundamente barroco pode ser percebido na contraditória diversidade dos temas que desenvolveu em sua obra:
a. poesia sacra (temática religiosa)
b. lírica amorosa
c. poesia satírica
d. poesia burlesca
I. Poesia sacra
Como autor barroco, não poderia faltar a poesia, religiosa em sua obra. Essa temática abrange um amplo conjunto, desde os poemas circunstanciais em comemoração a festas de santos até os poemas de contrição e de reflexão moral.
Texto
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vós tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Gloria tal, e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória
Vocabulário
despido: despeço forma regular de despedir-se.
delinqüir: pecar, cometer delito.
sobejar: ser mais que suficiene.
cobrada: recobrada, recuperada
Esse soneto de contrição é um dos mais conhecidos poemas de Gregório e segue o modelo conceptista de Quevedo. Nas questões abaixo procuraremos acompanhar os meandros do raciocínio engenhoso de um pecador que advoga sua causa, procurando convencer a Deus de que merece o seu perdão.
II- Lírica amorosa
A lírica amorosa na obra de Gregório de Matos abrange um amplo leque temático. Às vezes é a mais pura idealização do amor:
“Quem a primeira vez chegou a ver-vos,
Nise, e logo se pôs a contemplar-vos,
Bem merece morrer por conversar-vos
E não poder viver sem merecer-vos”.
Outras, uma requintada exploração da psicologia amorosa, como, por exemplo, na expressão da timidez do amante, temeroso do desprezo da amada:
“Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento,
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto”.
Chega também, freqüentemente, a um realismo irônico, quase cínico, como nos seguintes versos em que busca definir o amor:
“Isto, que o Amor se chama,
este, que vidas enterra,
este, que alvedrios prostra,
este, que em palácios entra:
[.......................................]
este, que o ouro despreza,
faz liberal o avarento,
é assunto dos poetas:
[.......................................]
Arre lá com tal amor!
isto é amor? é quimera,
que faz de um homem prudente
converter-se logo em besta”.
De acordo com Manuel Pereira Rebelo, seu primeiro biógrafo (início do século XVIII), o poeta teve uma paixão não correspondida pela filha de um senhor engenhoso, D. Ângela de Sousa Paredes Rabelo organizou um ciclo dos poemas que seriam expressão desse caso amoroso. Entre eles estão alguns dos mais belos da obra de Gregório de Matos.
O soneto que você vai ler agora é o sétimo poema do ciclo “Ângela”, na edição de James Amado.
Texto
Anjo no nome, Angélica na cara.
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
Vocabulário
florente: brilhante
por seu Deus: como seu Deus.
custódio: aquele que guarda, o anjo da guarda.
galharda: elegante, gentil
Observe que o nome da amada sugere as duas imagens em torno das quais se organiza toda a expressão poética.
III- Poesia satírica
O “Boca do Inferno” não perdoava ninguém: ricos e pobres, negros, brancos e mulatos, padres, freiras, autoridades civis e religiosas, amigos e inimigos, todos, enfim, eram objeto de sua “lira maldizente”.
O governador Câmara Coutinho, por exemplo, foi assim retratado:
“Nariz de embono
com tal sacada,
que entra na escada
duas horas primeiro
que seu dono.”
Contudo, o melhor de sua sátira não é esse tipo de zombaria, engraçada e maldosa, mas a crítica de cunho geral aos vícios da sociedade. Sua vasta galeria de tipos humanos contribui para construir sua maior e principal personagem - a cidade da Bahia:
“Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre.”
A cidade é assim descrita num poema:
“Terra que não aparece
neste mapa universal
com outra; ou são ruins todas,
ou ela somente é má.”
Mas nem sempre o poeta é rancoroso com sua cidade. No famoso soneto “Triste Bahia”, já musicado por Caetano Veloso, Gregório identifica-se com ela, ao comparar a situação de decadência em que ambos vivem. O poema abandona o tom de zombaria das sátiras para tornar-se um quase lamento:
“Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mim abundante.”
Depreende-se desse texto que as sátiras de Gregório de Matos esagradavam a muita gente. Por isso ele defende seu direito de escrevê-las.
Aos vícios
Eu sou aquele, que os passados anos
cantei na minha lira maldizente
torpezas do Brasil, vícios e enganos.
[.......................................................]
De que pode servir, calar, quem cala,
Nunca se há de falar, o que se sente?
Sempre se há de sentir, o que se fala?
Qual homem pode haver tão paciente,
Que vendo o triste estado da Bahia,
Não chore, não suspire, e não lamente?
[..........................................................]
Se souberas falar, também falaras,
Também satirizaras, se souberas,
E se foras Poeta, poetizaras.
A ignorância dos homens destas eras
Sisudos faz ser uns, outros prudentes,
Que a mudez canoniza bestas feras.
Há bons, por não poder ser insolente,
Outros há comedidos de medrosos,
Não mordem outros não, por não ter dentes.
Quantos há que os telhados têm vidrosos,
E deixam de atirar sua pedrada
De sua mesma telha receosos.
Uma só natureza nos foi dada:
Não criou Deus os naturais diversos,
Um só Adão formou, e esse de nada.
Todos somos ruins, todos perversos,
Só nos distingue o vício, e a virtude,
De que uns são comensais outros adversos.
Quem maior a tiver, do que eu ter pude,
Esse só me censure, esse me note,
calem-se os mais, chitom, e haja saúde.
Vocabulário
canonizar: considerar santo, incluir no rol dos santos;
quem maior a tiver: quem tiver virtude maior;
chitom: silêncio (do francês “chut donc”)
Poesia burlesca
É a poesia mais circunstancial de Gregório de Matos. De modo sempre galhofeiro, o poeta registra em versos sempre pequenos acontecimentos da vida cotidiana da cidade e dos engenhos. Segundo James amado, a poesia burlesca é a “crônica do viver baiano seiscentista”.
A maior parte foi escrita na última fase da vida do poeta, período de decadência pessoal e profisional. O doutor deixara de advogar e perambulava pelos engenhos do Recôncavo, levando sua viola de cabaça, freqüentando festas de amigos e namorando as mulatas, muitas delas prostitutas, com tom brincalhão podem freqüentemente tornar-se obscenos. “Daí, o ‘populismo’ chulo que irrompe às vezes e, longe de significar uma atitude aristocrática, nada mais é que válvula de escape para velhas obsessões sexuais ou arma para ferir os poderosos invejados” (Alfredo Bosi)
Texto: Décimas
Gregório de Matos
Quita, como vos achais
com esta troca tão rica?
eu vos troco por Anica,
vós por Nico me deixais:
vós de mim não vos queixais,
eu, Quita, de vós me queixo,
e pondo a cousa em seu eixo,
a mim com razão me tem,
pois me deixais por ninguém,
e eu por Arnica vos deixo.
Vós por um Dom Patarata
trocais um Doutor em Leis,
e eu troco, como sabeis,
uma por outra Mulata:
vós fostes comigo ingrata
com a grosseira ingratidão,
eu não fui ingrato não,
e quem troca odre por odre,
um deles há de ser podre,
e eu sou na troca odre são.
Eu com Anica querida
me remexo como posso,
vós co Patarata vosso
estarei bem remexida:
nesta desigual partida
leve o diabo o enganado,
porque eu acho no trocado,
que me vim a melhorar
mas na Moça por soldar,
que vós no Moço soldado
Se bem vos não vai na troca
pela antiga benquerença,
que farei logo a destroca:
porém se Amor vos provoca
a dar-me outros novos zelos,
hemos de lançar os pêlos
ao ar por seguridade,
e eu sei, que a vossa amizade
há de custar-me os cabelos.
Vocabulário
Patarata: ostentação ridícula, patacoada, mentira jactanciosa, pedante;
soldar: pagar (Anica é uma prostituta)
avença: (homem de boa avença) - fácil de contentar
hemos: havemos
lançar os pêlos ao ar: desnudar-se.
Soneto bem conhecido
de Gregório de Matos
A cada canto um grande conselheiro
Que nos quer governar cabana e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha,
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia